sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Futebol e Pátria

Poucos países sofreram com regimes totalitaristas como a Ucrânia no século XX. Por falta de um, o país localizado no leste europeu foi flagelado por dois regimes totalitários: o stalinista, da União Soviética, e o nazista.

Em 1922, incorporada à União Soviética, o país conheceu os horrores da ditadura de Stalin. Menos de 20 anos depois, em 1941, não satisfeitas com o sofrimento do povo ucraniano, as forças nazistas ocuparam o país, ignorando o tratado de não-agressão assinado com os então “proprietários” do país.

O povo então pensou: - já estamos no inferno com Stalin, a coisa não vai piorar com esse hemo do Hitler...

Ledo engano. Grande parte (senão a maioria) da população ucraniana acabou aprisionada, escravizada e enviada para a morte nos campos de concentração nazistas.

Com a 2ª Guerra Mundial em curso, as copas do mundo que seriam disputadas em 1942 e 1946 (que provavelmente consagraria o Brasil campeão de pelo menos uma delas) tiveram de ser canceladas. Em 1942, para promover uma impressão de normalidade e conquistar o apoio de parte da população ocupada, as autoridades nazistas permitiram a organização de um campeonato de futebol na Ucrânia.

Na disputa desse campeonato, o Dínamo de Kiev, um time formado por funcionários de uma padaria, rebatizado de Start, atropelou os adversários em todas as partidas. Ganhando de times ucranianos e de demais territórios ocupados, estes padeiros não chamaram a atenção dos nazistas. Porém, quando o Dínamo meteu 6x0 no PGS, um time de uma unidade militar alemã e posteriormente, 5x1 no Flakelf, formado por membros do Luftwaffe, a força aérea alemã, os nazistas não acreditaram.

Como pode um time de uma subraça, subnutridos, vencer a raça superior alemã, muito bem alimentada inclusive? Os alemães marcaram uma revanche 3 dias depois do último jogo. No vestiário, os ucranianos receberam uma carta com o aviso:

- Se ganharem, morrem.

Também lhes foi dada a instrução de cumprimentar os adversários no início do jogo com a saudação nazista “Heil Hitler!”. Num ato de ódio com rebeldia, os jogadores do Dínamo fizeram uma saudação gritando “Fizsculthura!”, uma mistura de Fitzcultura (cultura física) com “Hurrah”, que significa “vida longa ao esporte”.

Mesmo com o imparcial árbitro ignorando TODAS as faltas cometidas pelos alemães e marcar TODAS as supostas faltas cometidas pelos ucranianos, o Dínamo, tremendo de medo e de fome, não puderam agüentar a vontade de ser dignos e venceram por 5x3.

Para os torcedores que lotaram o estádio, aquilo foi um ato de resistência, um exemplo. Os jogadores foram torturados e fuzilados com a camisa do time. Um monumento foi erguido em homenagem a estes jogadores.