segunda-feira, 1 de março de 2010

O Mundo Precisa do Zé

Sei que a generalização não é uma característica positiva quando se trata de análise, no campo de qualquer ciência, principalmente das sociais. Palavras como “tudo” e “sempre” são expulsas do vocabulário dos aventureiros que se metem a analisar a sociedade. Contudo, há alguns elementos que sempre estiveram presentes em tudo quanto é forma de organização social humana mais complexa. Desde que se tem notícia do mundo, parte significante da sociedade possui o papel de trabalhar para o benefício de outrem, principalmente de forma braçal.

Na visão dos ocidentais, trabalhar utilizando a força física, ou habilidades físicas, ou qualquer ofício que não seja considerado intelectual é coisa de animais. Irônica sociedade a nossa: em sua essência gera o elemento que é desprezado. É impossível e inimaginável uma forma de organização dos seres humanos sem a presença dessa figura. Quem ergueria Atenas, os filósofos?

Toda sociedade precisa do bode expiatório de suas mazelas. Quem é a fonte das maldições, a explicação de todas as desgraças? Segundo a minúscula minoria que sempre brava e merecidamente desfruta dos benefícios da sociedade em que está inserida, é essa gigantesca maioria das pessoas que tornam o mundo um lugar horrível. Os filósofos odiavam os escravos; os patrícios, a plebe; a nobreza medieval e a igreja católica, os servos; e finalmente os {INSIRA AQUI O NOME QUE VOCÊ CONSIDERA ANÁLOGO PARA A CONTEMPORANEIDADE}, os indivíduos desqualificados profissionalmente. Afinal, quem é que lota as filas do SUS e do INSS? Quem possui filhos na escola que não conseguem tornarem-se alfabetizados?

A personificação perfeita dessa figura social é o Zé. Isso mesmo, você pensou no jardineiro da sua casa, no pedreiro que seu pai conhece, ou no motorista do ônibus que eventualmente você já tomou, né? Ninguém quer ser o Zé. Mas a esmagadora maioria dos indivíduos que convivem em sociedade o são.

Quando será que entenderemos que precisamos desse cara? Quem vai limpar a sugeira, executar o que planejaram? Difícil admitir que se depende de alguém, não? Tudo isso de que nos gabamos seria inviável num mundo apenas com planejadores, controladores, avaliadores.

Fico pensando no dia em que o sindicato dos lixeiros resolver cruzar os braços e exigir atenção... Deve ser por isso que a instrução nunca foi universalizada.

Um comentário:

  1. A inspiração para esta postagem veio do encontro hoje com o Minerval, o ex-faxineiro do local onde trabalho.

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