A inflação (e principalmente as medidas adotadas para o seu combate), norteou as pautas de discussão dos economistas brasileiros das décadas de 1980 e 1990. Em um período de 15 anos o Brasil apresentou uma inflação acumulada de 20,7 trilhões percentuais. Após inúmeras tentativas frustradas de combate à elevação desenfreada dos preços, que vão desde o congelamento dos preços, como plano cruzado, até o seqüestro de liquidez, como fez o presidente Collor em seus dois planos, a estabilização dos preços foi alcançada com o plano real, que utilizou a anteriormente ignorada proposta dos economistas Persio Arida e André Lara Resende.
As políticas econômicas brasileiras não tinham como ter olhos para outros assuntos que não a estabilização dos preços. Os anos 80 ficaram conhecidos como “a década perdida”. A primeira metade dos anos 90 também pode receber semelhante rotulação. Foi um período muito traumático para os brasileiros, principalmente para a população de baixa renda, esmagadora maioria do país.
A contrapartida para a manutenção da estabilização foi a imposição de juros estratosféricos em nossa economia. Deixamos de ser recordistas em inflação para tornarmos campeões em juros. Segundo a visão de nossas autoridades econômicas, um trade-off justo.
Eu tinha a impressão que havíamos superado o trauma da inflação. Porém, com os recentes dados do IPCA e a expectativa inflacionária (que é um fator importante para a elevação da inflação), me fizeram cair na real e concluir que este monstro ainda nos assusta.
Muitos economistas acreditam que a inflação é uma espécie de calor dissipado do funcionamento de um motor. Ou seja, se tivermos uma economia aquecida, com os agentes realizando constantes trocas, necessariamente teremos elevação inflacionária. Com esse pensamento, a atual recuperação do Brasil representa um risco inflacionário.
O Brasil acumula de janeiro a março de 2010 uma inflação de 2,06%, um número muito acima do apresentado em 2009, 1,23%. Há quase um consenso que o IPCA ficará acima da meta do Banco Central de 4,5% em 2010. Esses números certamente farão o Comitê de Política Monetária, o COPOM, lançar mão do seu método de controle inflacionário: a taxa SELIC, que vem em uma trajetória de queda e deve começar a subir.
A manutenção da taxa SELIC em 8,75% a.a na última reunião contou com 5 votos a favor e 3 contra (estes queriam uma elevação de 0,5% na taxa). Este é o sinal que certamente em sua próxima reunião no final de março, o COPOM deve elevar os juros para manter a inflação sobre controle.
O passado recente ainda rege muitas das ações das autoridades de política monetária. Ainda temos medo do dragão da inflação. É esperar a próxima reunião para conferir.
Me desculpem pela demora para realizar esta postagem, ando muito ineficiente ultimamente...
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